Thursday, May 05, 2005


Quando me perguntaram quem era o meu herói eu respondi espontaneamente que era eu.
Mas isto tem um sentido negativo.
Supero tudo sem dor.
Supero tudo sem chorar.
Viro a página do meu livro.
Quando me perguntaram quem era o meu pior inimigo respondi automaticamente que era eu.
E talvez tenha um sentido positivo.
Escondo-me de mim.
Ajudo terceiros.
Esqueço-me do meu livro para pintar o dos outros perfeito.
Pararei algum dia para pensar?
Será tarde demais?
O tempo dá dois passos à frente enquanto eu dou um para trás.
O tempo roubou-me a esperança no fatal destino traçado.
O tempo avançou no momento que eu parei.
Faço uma expressão triste mas mesmo assim não sinto nada.
Ouço uma música que faz o coração sangrar e não sinto dor.
Peço a Deus que olhe por mim e sinto que pequei demais.
O anjo da guarda deixou-me no dia em que ele me deu conselhos e eu o contrariei.
E agora?
Não me sobra nada.
Só vícios.
Vícios que me vão matando.
Um dia morrerei.
Não darei conta do tempo que passou.
Um dos meus grandes medos é chegar a esse momento e sentir que desperdicei o tempo que me foi dado.
Desperdicei-me a mim.
Revolta-me não ser egoísta.
Revolta-me não amar.
Fico louco quando me enganam.
Contarei os dias no caso de mudar.
Durante o tempo que me espera serei o inimigo mais corajoso e heróico que me rodeia.
escrito por Pedro Monteiro

Assustado contra esquecido.
Senti um medo enorme de mim.
Os meus pensamentos foram muito longe.
Olhei para trás e ninguém me seguia.
Mas ao longe reparei num corvo.
Senti que ele me observava.
E o meu medo aumentou.
Parecia uma criança assustada com medo do bicho papão.
Ainda me lembro que a minha mãe me dizia que ele não existia.
Ele existe.
De várias formas.
O bicho papão está por trás de cada porta.
Ele é cada medo que eu tenho.
Ele está presente em cada momento meu de solidão.
Ele ri-se de mim.
E uma parte de mim morre.
Não quero morrer totalmente.
Não me quero desligar.
Minha memória está a desaparecer.
Um dia não me lembrarei de nada.
E apetece-me chorar.
Mas não choro.
As lágrimas secaram com o vento duma noite antiga.
Procurando a sua trajectória ele passou por mim.
E riu-se de mim.
A lua está de costas.
Quando sufoco olho para ela mas ela já não me quer.
Já nem ela me quer.
Sofro por não ter.
Quando tenho viro as costas.
Agora até as ondas quando me vêem retornam ao mar sem rebentar.
A areia tornou-se em pedra.
Fria e dura para me magoar.
Estou prestes a perder o meu refúgio.
E já não sei falar.
Estou mudo e esquecido.
Os homens também choram.
Mas os rapazes perdidos e assustados já não.
Eles apenas divagam no silêncio abandonados.

escrito por: Pedro Monteiro