Dúvida confusa
Foi na sede de frieza que me acostumei a ti, vida fácil.
Apanhei o transporte directo para o refúgio onde me isolei.
E como não sou excepção obtive o pior defeito do ser humano, a azeda habituação.
A desilusão será para sempre o meu calcanhar de Aquiles, onde fraquejarei.
Mas o pior sentimento é quando olhamos à volta e temos medo dos vultos que nos assombram.
E lá estás tu de novo fotografia nula dum passado que desapareceu na noite do meu nevoeiro azul.
Pó nos objectos guardados na minha memória que falha para eu não cair.
E no sal do mar tu foste doce.
E no calor do sol tu foste água fresca que bebi.
Mas tenho tanta sede neste meu inferno.
Sinto meu sangue a não correr nas veias.
Ele parou.
As minhas pétalas murcham a cada segundo da tua ausência.
E vou cair.
Vou cair do cavalo da minha ansiedade que já não te quer suportar mais.
Mas irei erguer-me.
Suplicarei no meu próprio eco por um sinal que me guie no meu caminho destruído por ti, desilusão.
Porque no início foste paixão, crueldade, depois amei-te, sadismo e agora só me restam dúvidas e culpas que quero enviar numa garrafa para o mar profundo das tuas lágrimas de sangue falso onde me iludi.
escrito por Pedro Monteiro