Saturday, March 05, 2005

Meditar do demónio

Inocentemente tu sopraste a chama da vela acesa.
Foi o maior erro da tua vida.
Tornaste-te uma desilusão e quebraste o espelho da minha alma.
Perco-me na minha cabeça cheia de pensamentos.
Deslizo pelo escorrega da vida.
Quero sentir mais.
Voar com roteiro traçado.
Estou farto do desenhar abstractamente.
Preciso de nitidez e sobriedade.
Invocar sempre o mesmo nome cansa.
Sinto-me fraco.
Falar de um passado presente é repetitivo.
É como escrever o mesmo poema vezes sem conta.
Quero agir duma forma original e nova.
Receio sentir o medo de ficar.
Falar de ti ou usar o teu nome já não é uma desculpa.
Apaixonei-me pela vontade de me esconder.
Amo o silêncio destas quatro paredes.
Adoro fixar o tecto do meu quarto.
Sinto-me seguro neste soalho flutuante.
Fecho os olhos e medito.
Não consigo voar.
Caio sempre neste meu sonho real.
Tenho vertigens desde esse dia.
Conto cada passo que dou.
Andei nas ruas da confusão e desespero.
Já não sei de onde vim.
Já não sei quem sou.
Perdi-me no mar.
Não voltei.
Mergulhei tão fundo que sinto as algas me envolverem de desejos.
O meu corpo não encontra a minha alma.
Ele espera pela próxima onda que o leve também.
Pode ser que volte a respirar.
Pode ser que ganhe guelras e nunca mais volte.
Preferia ganhar asas e voar.
Voar bem alto.
Voar e ficar.
Deitar a minha cabeça na suave nuvem que lá em cima fez chover naquele dia negro e milagroso em que tudo fazia sentido.
Pelo que vejo, vou admirar o sol a brilhar para outras almas.
O sol já não brilha aqui.
Ficarei nesta casa fria onde o sol não bate.
Solitariamente vou meditar.
Com um sorriso na cara sonho na minha realidade.
Com uma lágrima no rosto perco-me no meu eterno pesadelo.
E viverei para dizer as minhas palavras ao próximo demónio que passar durante a madrugada.
De noite vivo.
De dia sonho.


by Pedro Monteiro