Baloiço
Sou tão forte que me esqueço de mim.
Fico para aqui desconcentrado com esta ilusão de um passado que já não retorna a mim.
Tenho frio mas deixo a cara de fora do cobertor para sentir o teu beijo solidão.
Temos uma relação de amor/ódio mas por mais que não queira já só vivo contigo.
Quero te tratar mal como nunca tratei ninguém mas estou tão fraco…
Esta angústia que me esfola o coração…
Orgulho-me de tudo o que sou mas se pudesse escolher seria mais igual a ti multidão.
Já tenho saudades de sentir saudades…
Iludo-me na rotina dos meus dias mas quando estou só apercebo-me que estou sózinho.
Escondo-me como sempre me soube tão bem esconder por trás da minha alegria.
Estou a sorrir para ti tela em branco de quem não sabe o que pintar.
Tento algo novo mas vejo o mesmo de sempre, a escuridão.
Preciso de luz nesta frieza que sinto.
Já nem uma música antiga me faz lembrar…
Improviso um sentimento.
Esforço uma lágrima.
Mas estou seco.
Como se nada fosse sequei.
Matei-me por dentro…
A culpa foi tua seriedade…
Matei-me por dentro…
Este é o meu ponto sem retorno.
É aqui que deveria recomeçar mas parou…
Surpreendes-me mas já não me trazes novidades.
Por momentos acredito que a vida é tão mais que isto.
Mas estou a tornar-me um hábito na minha própria prisão.
E tento-me enganar todos os dias que tu és diferente mas tu és tão igual.
Era um tesouro escondido à espera de ser encontrado mas agora sou só alguém que não se lembra de ontem, que vive hoje mas que no fundo se assusta com o amanhã.
Hoje já é muito mau para querer acordar amanhã...
Deixa-me estar eternamente aqui.
É que depois de amanhã quererei voltar atrás e relembrar todos os meus cinco sentidos.
Por favor solidão, deixa-me ficar aqui...
Mas matei-me por dentro e afinal acho que já não justifica ter saudades de sentir saudades.
Prefiro contradizer-me e não entender o que quero realmente exprimir.
Afinal de contas no fim arrependo-me sempre de ceder aos teus caprichos rancor.
Se não cedesse seria mais igual a todo o Universo que me envolve.
E nos meus dias preferia ser menos diferente da clareza que o dia tem.
Estou de novo escuro, seco e desgastado…
Sento-me no meu baloiço e pelo menos enquanto cá estou sózinho vou pensando, mesmo não sentindo vou pensando...
escrito por Pedro Monteiro