No fim do dia...
Os traços contínuos da estrada guiam-me para o meu porto de abrigo.
Quando corro para ver o sol, ele já se escondeu.
Chego a correr muito depressa para lhe poder contar tudo sobre ti.
Mas ele tem vergonha de mim.
Nesse caminho longo de casa eu sinto a chuva escorrer-me pela cara.
Sinto o seu sal.
Sinto a sua frescura.
E chego ao meu porto de abrigo.
E chego ao fim.
Ao fim de mais uma página em branco.
No primeiro capítulo tenho rabiscos confusos de quem não sabe escrever certezas.
Agora tenho uma história bonita na mente mas, é apenas a minha fantasia que cresce de dia e sangra de noite.
A cada dia, a cada página e a cada vazio sentido, o meu coração ganha uma nova cicatriz.
Em cada esquina vejo a tranquilidade, sorrio e baixo a cabeça.
Em cada janela sinto o cheiro do amor e inspiro duma forma subtil para me contagiar com esse vírus.
Em cada boca eu vejo os teus lábios e perco-me.
E tu?
Que desejos misteriosos tens tu?
Quem te esfaqueia o coração?
Quem te faz chorar lágrimas de sangue?
E quando chego ao meu refúgio e sei que o vou perder para sempre morro mais um pouco na escuridão.
E quando me retiram o afecto ao qual me dediquei, sangro mais um pouco.
E quando quero falar, esqueço o abecedário do disfarce.
E meus olhos molham-se fechados.
E fecho mais uma porta.
Já nem tenho coragem de abrir aquela pequena janela.
Já só quero fechar os olhos e dormir.
Porque amanhã sim.
Amanhã é mais um dia em que voltarei a correr ainda mais depressa para ver o sol e esquecer o mundo e falar-lhe de ti anjo que desapareceste mas que eu não esqueci.
Nem o tempo.
Nem ninguém me fará esquecer o teu olhar silencioso de quem me tocou.Porque na memória de um anjo negro só foram esquecidas almas com quem não sonhei e apenas me escondi.
escrito por Pedro Monteiro