Thursday, November 17, 2005

O pingo do tempo



Sentir que se perde algo que finalmente se quer ter é sentir a derrota de uma guerra.
Choramos o valor de um sorriso antigo que não é nosso.
Lembramos vozes que nos tornam impotentes para agir.
Ouvimos palavras que já não existem...

Já nem o tempo nos leva as lembranças nos ventos fortes da noite fria deste Inverno.
Mas continuo a esperar.
Espero por estar sózinho.

Quero fechar os olhos e sentir-te aqui.
Sei que sou doentio mas apesar de estar algures a flutuar longe da minha verdade não quero que a música tenha outro sentido para mim...
Doa o que doer...

Passaram-se exactamente 110376000 segundos desde o fim do início.

Caíram exactamente 110376000 pingos da minha torneira estragada desde que a usaste pela última vez.

A cada pingo eu espero.

A cada pingo uma esperança.

Em cada segundo fico mais longe do tempo.

A cada segundo fico mais longe de ti.

É esse perfume natural que me desperta na minha ficção.
É esse toque que sinto de olhos fechados na minha imaginação.
És tu a minha doença incurável...

Sinto-me grato por relembrar contigo por perto, chama da minha vela que está a findar.
O meu silêncio sufoca-me, mas esta tristeza é minha e eu faço dela o que bem entender.
Se a quero ter e morrer mais um pouco é a minha decisão.
Porque por mais que alguém me limpe uma lágrima, no escuro deixarei cair mais umas tantas.

Só pedi rever-te.
Não sou um anjo negro que pede o mundo.
Só peço um pouco.
Não sou vulgar.

Falsa modéstia que queres mais...
Eu so pedi o chão e ela já quer o tecto e as paredes.

Arrependo-me, não me arrependo, arrependo-me, não me arrependo, arrependo-me, não me arrependo e calha-me no malmequer sempre a pétala de "arrependo-me"...

Quero mais...
Quero tudo de novo.
E quero tudo para sempre...

E até pode ser à tua maneira...
De novo à tua maneira...



escrito por Pedro Monteiro