Tuesday, June 28, 2005

Vultos





Canta para mim peixe da água salgada que me sara as feridas.
Na linha do horizonte perco-me em pensamentos atentos.
Inspiro-me nas pedras da calçada numa matemática de vida irreversível.
Reencontro-me com a culpa guardiã da minha escuridão.
Ajeito-me num esconderijo iluminado por um candelabro medieval.
Na noite, vejo vultos do mau instinto perseguirem a minha intuição de Homem.
É como se estivesse encurralado num beco sem saída.
Mas para tudo há solução.
Não há?

Susto de um grito de prazer escondido num beco tão sujo quanto a tua mente.
Surpreende-me líder do pecado que todos te seguem como exemplo de verdade.
Ouço os passos lentos da tua agonia sufocante que procura a sua presa.
Faz-me acreditar que contrariar a má educação de viver é a resposta.
Mas não me apontes o dedo ao deixar-te para trás.
Porque não me escondo por detrás duma sombra com essa determinação.
Manchas a cara num movimento vanguardista adulterado.
Olha que o tempo não apaga as lágrimas de um futuro próximo...
Escavarás a tua própria cova de solidão com essa tentativa obcecada de amar.
Irás conseguir superar?
Será possível?

Talvez já seja tarde para sonhar.
Tenta pôr os braços à tua volta num calor solitário.
A chama da vida está-se a apagar para ti.
Soluças o arrependimento de continuares a tentar quebrar o gelo do teu coração.
Não esperes.
Esperar é enfraquecer.
Esconder é adoecer.
E tu serás mais um vulto escondido na sombra da escuridão húmida da noite.



escrito por Pedro Monteiro