Thursday, May 05, 2005


Assustado contra esquecido.
Senti um medo enorme de mim.
Os meus pensamentos foram muito longe.
Olhei para trás e ninguém me seguia.
Mas ao longe reparei num corvo.
Senti que ele me observava.
E o meu medo aumentou.
Parecia uma criança assustada com medo do bicho papão.
Ainda me lembro que a minha mãe me dizia que ele não existia.
Ele existe.
De várias formas.
O bicho papão está por trás de cada porta.
Ele é cada medo que eu tenho.
Ele está presente em cada momento meu de solidão.
Ele ri-se de mim.
E uma parte de mim morre.
Não quero morrer totalmente.
Não me quero desligar.
Minha memória está a desaparecer.
Um dia não me lembrarei de nada.
E apetece-me chorar.
Mas não choro.
As lágrimas secaram com o vento duma noite antiga.
Procurando a sua trajectória ele passou por mim.
E riu-se de mim.
A lua está de costas.
Quando sufoco olho para ela mas ela já não me quer.
Já nem ela me quer.
Sofro por não ter.
Quando tenho viro as costas.
Agora até as ondas quando me vêem retornam ao mar sem rebentar.
A areia tornou-se em pedra.
Fria e dura para me magoar.
Estou prestes a perder o meu refúgio.
E já não sei falar.
Estou mudo e esquecido.
Os homens também choram.
Mas os rapazes perdidos e assustados já não.
Eles apenas divagam no silêncio abandonados.

escrito por: Pedro Monteiro

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