Homem de Cera
Na tua paixão alheia cobri me de cera e meu coração quebrou.
Os olhos deixaram de ver o brilhar do sol matinal que me fervia o sangue.
Recebi a notícia que antigamente ansiava e agora receio.
As batalhas contra os pensamentos foram diversas e sofridas.
Sou o espião cujo disfarce fracassou no teu olhar angelical.
Sou a força da natureza que no escuro fraqueja e chora.
Revejo-me na insensibilidade esperançosa por te ver.
Meu gelo derrete a cada proximidade tua.
Pingo sangue da cara da dor que a tua imagem provoca na minha esperança.
Falta-me a força e coragem de mudar a rota do meu barco fantasma.
Na minha capa escura esqueço cada momento teu.
Adormeço numa cantiga que não embalou o anjo que me renegou.
Pintei um nú teu e fui guiado à apaixonante rejeição.
Mas agora filmei a tua alma e por momentos perdi-me no teu angustiante carinho esquecido pela minha emoção raramente sentida.
Sou o boneco de cera do teu museu do esquecimento.
Não mexo.
Não falo.
Sufoco.Passo despercebido num olhar fixo de quem amou mas tem medo de derreter e desaparecer de novo no bosque negro da vida.
escrito por Pedro Monteiro
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