Pecado comum
-Como és capaz?
-Escondo-me sempre nas sombras.
-Vives nas sombras?
-Não. Só me faço ver na escuridão das sombras.
-Presumo então que sejas um noctívago…
-Não necessariamente.
-E porque o fazes?
-Por pura diversão e satisfação.
-Sentes prazer escondido?
-Não. Sinto prazer quando domino.
-Usas as sombras, é isso que queres dizer?
-Uso. E nunca as repito.
-Porque não repetes?
-É uma questão de orgulho.
-Já o fizeste como um meio para atingir um fim?
-O meio é o prazer e o fim o abandono. Tem sempre um principio, meio e fim.
-E qual é o início?
-Poder sempre escolher e conseguir facilmente.
-Conseguiste sempre tudo o que querias?
-Desde que me conheço.
-E quem és tu?
-Um homem de poucas palavras que diariamente se diverte com a inocência de terceiros.
-Tens noção que um dia irá tudo acabar?
-Claro. Nesse dia perderei a minha essência.
-E que essência é essa?
-O meu poder, a minha beleza e a minha forma boémia de estar.
-E se um dia descobrires que não há ninguém para ti.
-Não há ninguém igual a ninguém. Não há ninguém melhor que eu.
-Reformularei a pergunta. E se um dia ninguém te quiser amar?
-Toda a gente me ama. Eu não amo ninguém.
-Um dia tudo irá acabar. Um dia será o teu fim. Tu casaste-te com a tua morte. Repara bem, na saúde, na doença, na tristeza e no amor. Desta forma será o teu fim.
-Como?
-Na saúde: tu está psicologicamente doente;
Na doença: o destino que tu próprio escreves está a destruir-te.
Na tristeza: não há sentimento pior que o da solidão.
No amor: refugias-te no sexo com medo de amar.
Amar não é para todos. Mas amar muda uma pessoa.
Sentir é pensar em alguém.
Pensar é sentir ansiedade de entrega, não de posse.
Beijar é conhecer alguém, não é tomar banho para limpar o suor de outra pessoa.
Tu és uma triste realidade.
Tu és um misto de seca de Verão com uma chuva de Inverno.
Saltas a estação do renascer da primavera.
Foges no Outono dos passeios românticos do fim de tarde.
Tudo tem um princípio, meio e fim sim.
No início os corpos conhecem-se.
No meio os lábios amam-se.
E no fim a companhia mantém-se independentemente da distância física de alguém.
Isso é o amor.
Um dia que te usem, porque há alguém melhor que tu, não terás força para trepar a corda da vida e será tarde demais.
Terás os dias contados.
-…
Escrito por Pedro Monteiro
2 Comments:
É bom quando vemos as nossas inspirações serem tão bem aproveitadas como esta. A forma como pegas numa ideia e lhe dás a volta de forma inesperada e surpreendente é algo que só alguns possuem. Guarda-a, preserva-a, cultiva-a. Tal como se deve guardar o amor, também as nossas riquezas devem por nós ser protegidas.
sem dúvida, os 2 textos complementam-se.
não pude deixar de não comentar, gostei particularmente da forma como entrelaças as palavras.
cat
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